Novo modelo redefine as classes socioeconômicas brasileiras e identifica diferentes padrões de consumo

Como definir a “nova classe média” e identificar seus reais padrões de consumo, diante de critérios de classificação que já não refletem o perfil socioeconômico da sociedade brasileira atual? Esse desafio foi encarado pelos professores Wagner A. Kamakura (Rice University) e José Afonso Mazzon (FEA-USP) e resultou no livro “Estratificação Socioeconômica e Consumo no Brasil”.

Tendo em vista as necessidades da indústria de pesquisa de mercado e da mídia, Kamakura e Mazzon desenvolveram um novo modelo de estratificação socioeconômica para o Brasil que estabelece sete novos estratos, redefinindo as classes socioeconômicas para fins de segmentação de mercado e audiência. A nova estratificação é inovadora e poderá ser aplicada em todas as áreas do conhecimento, como educação, saúde, psicologia e direito. O trabalho foi feito em estreita colaboração com a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP).

Uma das principais inovações trazidas pelo estudo é a constatação de que a classe socioeconômica não é a mesma para todo o Brasil. Para desenvolver o novo modelo de estratificação, os especialistas em Marketing utilizaram o conceito teórico da renda permanente, que indica a capacidade do domicílio de ter e manter certo padrão de vida. Esse conceito de renda permanente é mais válido do que a renda corrente, que é flutuante, principalmente em termos práticos, porque “os consumidores tentam manter o seu padrão de vida ao longo do tempo, mesmo quando sua renda corrente sofre mudanças dramáticas, utilizando para isso a poupança, o investimento ou o crédito”, justificam os autores.  A renda corrente é utilizada como a única base para estratificação pelo chamado Critério de Classificação Econômica Brasil.

No novo modelo, a renda corrente mensal confirmada do domicílio entra apenas como um dos vários indicadores da renda permanente, que abrange ainda a educação do(a) chefe da família, o acesso a serviços públicos (água encanada, rede sanitária, rua pavimentada) e o número de bens duráveis, além de considerar mais quatro importantes variáveis que definem a composição familiar (número de adultos no domicílio; número de crianças/adolescentes no domicílio) e a localização geográfica do domicílio (região geográfica; tipo/porte do município). No caso da localização geográfica, as regiões são divididas em três – Norte-Nordeste, Centro-Oeste, e Sul-Sudeste – e o tipo de município em três – Capital-Região Metropolitana, Interior do Estado e Área Rural. Você pode verificar a classe de qualquer domicilio brasileiro no site: www.pesquisasocioeconomica.com.br.

Esse sistema é considerado inovador porque considera o impacto de fatores geográficos (regionais e nível urbanístico) e da composição familiar na estratificação. Em outras palavras, ele reconhece que a mesma renda permanente possibilita a um domicílio com dois adultos, por exemplo, manter um padrão de vida mais elevado do que um domicílio com três adultos e duas crianças. Da mesma forma, dois domicílios com a mesma composição familiar e igual renda permanente podem manter diferentes padrões de vida, dependendo da região em que vivem e de sua localização urbana ou rural, devido às diferenças no custo de vida e ao acesso a serviços públicos.

“O custo de vida de uma cidade no interior da Bahia para um domicílio com a mesma composição familiar é diferente do custo para um domicílio localizado no Rio de Janeiro ou São Paulo. Da mesma forma, famílias morando na mesma cidade, mas com diferente número de pessoas habitando o domicílio, têm necessidades de conforto doméstico e de poder aquisitivo distintas”, esclarece o professor da FEA-USP, José Afonso Mazzon.  “Não conhecemos critério de classificação em nenhum outro país que tenha levado em conta essas condições”, ressalta o especialista.

De acordo com os autores do livro, o status socioeconômico é um fator importante para a segmentação de mercados em economias emergentes, porque ele diferencia bem os padrões de consumo entre as famílias. Além disso, ajuda a entender os efeitos das crises econômicas no consumo.  Quando se fala que a “classe média” foi afetada pela crise mundial não há uma definição clara e abrangente sobre esse estrato. “Um dos nossos propósitos foi definir objetivamente as classes socioeconômicas dentro da sociedade brasileira, baseados em dados concretos coletados pelo IBGE”, afirmam. Os dados utilizados foram da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada em 2009, que se baseou numa amostra nacional de mais de 55 mil domicílios, projetável para a população de domicílios brasileiros.

Livro: Estratificação Socioeconômica e Consumo no Brasil

Autores: Wagner A. Kamakura e José Afonso Mazzon

Editora: Blucher

Páginas: 318

Preço: R$ 79,50

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